sábado, 6 de abril de 2013

Pão Nosso De Cada Dia

O austriaco Nikolaus Geyrhalter andou durante dois anos a recolher imagens em explorações alimentares industriais para dar a ver como é recolhida e processada a comida que consumimos diáriamente. 

Sem voz off nem diálogos, o filme deixa as imagens falarem por si e é capaz de fazer os espectadores sairem perturbados da sala ou jurarem que a partir de agora se tornam vegetarianos. Legumes, carne, peixe, fruta: pouco interessam as diferenças, tudo está automatizado de modo a poupar o esforço humano e a maximizar a rentabilidade de cada alimento, mas com o efeito irónico de desumanizar a mão-de-obra, reduzida ao mero estatuto de “máquina” que repete incessantemente os mesmos gestos para manter a linha de montagem a funcionar.

”Portanto já sabe, a partir de agora não tem desculpa, cada vez que entrar nas grandes superficies dos Hipermercados já sabe do que é que a casa gasta.“ Nikolaus Geyrhalter propõe ver-nos a nós, os humanos que inventámos a linha de montagem, como mais uma rodinha na engrenagem do “pão nosso de cada dia” – mas, entrando numa perturbante dimensão (quase paredes meias com o voyeurismo) fá-lo com um distanciamento glacial, ele próprio “quase desumano”, sem julgar nem tomar partido, mostrando-nos o que já sabemos mas preferimos ignorar, à laia de segredo de polichinelo. 

"Our Daily Bread" é uma espécie de apocalipse da natureza domesticada filmado em câmara lenta, enquanto os homens vão mastigando a sua sanduiche e bebendo o café na pausa para o almoço, como se não fosse nada com eles”. Ainda por cima, sempre de olho na omnipresente TV.

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